Terça-feira, 3 de Janeiro de 2012
Para tu ganhares um belíssimo Ano Novo cor de arco-íris, ou da cor da paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido...
para tu ganhares um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo teu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
tu não precisas de beber champanhe ou qualquer outra bebida,
não precisas enviar nem receber mensagens.
(as plantas recebem mensagens? Enviam telegramas?).
Não é necessário fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisas de chorar arrependido
pelas loucuras consumadas nem inocentemente acreditar
que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito de viver.
Para teres um ano-novo que mereça este nome,
tu, tens de merecê-lo,
tens de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tenta, experimenta, consciente.
É dentro de ti que o Ano Novo
permanece e espera desde sempre.
(Autor:Carlos Drummond de Andrade)